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O chute mais caro do Brasil


Muita gente não viu, mas ontem na abertura da Copa do Mundo, o primeiro chute na Arena Corinthians foi dado por um paraplégico. Juliano Pinto, de 29 anos, usava o exoesqueleto desenvolvido pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, que prometeu fazer um jovem andar no campo e chutar a bola. O movimento, que passou quase despercebido, já que o jovem não andou, foi uma demonstração do Projeto Andar de Novo, que recebeu um investimento de 33 milhões de reais do governo federal.
Longe de mim, que sempre defendi a promoção da ciência, ir contra a qualquer estudo cujo objetivo é alcançar formas de movimentar o corpo humano. Contudo, a viabilidade e o investimento colocado no projeto, diga-se de passagem, com dinheiro público, não podem deixar de ser questionados.
Com 33 milhões de reais, poderíamos realizar diversas pesquisas em prol da cura de paralisias e a reversão de doenças paralisantes e lesões medulares. Com uma pequena parte desse dinheiro, faríamos pesquisas voltadas para a ELA (esclerose lateral amiotrófica), doença degenerativa e progressiva que atinge cerca de cinco mil brasileiros por ano. Enquanto se investe seis vezes mais para demonstrar ao mundo o chute de um paraplégico, pacientes da ELA vivem (ou sobrevivem) sem perspectivas de um futuro.
Com 10% do investimento grandioso do exoesqueleto, poderíamos investir em outras pesquisas úteis voltadas para o estudo da diabetes, esquizofrenia, Alzheimer, Parkinson, entre outras doenças cujo tratamento e a cura são alvo de cientistas de todo o mundo, inclusive dos profissionais brasileiros, que hoje trabalham com recursos públicos vergonhosos.
Ainda, com os 33 milhões investidos no projeto de Nicolelis, cerca de 6.600 brasileiros receberiam uma cadeira de rodas motorizada. É mais que o dobro fornecido pelo SUS no ano passado, quando distribuiu aproximadamente 2.900 cadeiras, segundo a Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS).
Pensando em robótica, com o mesmo valor investido no Projeto Andar de Novo, o Brasil conseguiria adquirir 27 aparelhos da Lokomat, que ao invés de um chute, consegue fazer tetraplégicos de fato andar em uma esteira ultramoderna com um robô encaixado na perna que faz o movimento da marcha.
E se pensarmos em reabilitação, área miserável em nosso país, conseguiríamos construir, equipar e custear, por um ano, cinco centros de reabilitação no Brasil, utilizando como base de cálculo a própria portaria 835/2012 do Ministério da Saúde que institui incentivos financeiros nessa área.
Por isso, o exoesqueleto, mesmo sendo um avanço científico, não é um projeto promissor ao brasileiro com deficiência, que por mais vontade que tenha em voltar a andar, ainda carece do básico.
Além de todos esses motivos e tantos outros que estenderiam a discussão por horas, o exoesqueleto não é funcional: pesa 70 quilos. Já imaginou o que seria andar carregando esse peso com você? Também não podemos deixar de falar que houve falta de publicação de trabalhos científicos mostrando os resultados da pesquisa, já que Nicolelis publicou artigos detalhando os testes só em macacos ou ratos.
Dado o chute inicial da Copa, espera-se, ao menos, que seja mantido o laboratório de robótica construído na AACD e que o projeto fique de legado para a população que de fato carece de atendimento em reabilitação.
Assista ao vídeo do chute inicial da Copa: https://www.youtube.com/watch?v=TbVz8xZCVuk
Descrição da imagem para cego ver: Jovem com exoesqueleto acoplado ao seu corpo, com roupa do Brasil, estica a perna direita para chutar a bola sob um tapete vermelho estendido no campo. Ao seu redor, pessoas o auxiliam.
Por:Mara Gabreill

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