Vivi há uns nove anos atrás uma situação que marcou minha vida. E toda vez que a tristeza ou a melancolia tentam fazer morada em meu coração, Deus me trás a memória esse episódio.
Certo dia acordei muito triste e angustiado. Fazia alguns meses que eu havia me acidentado e segui para a fisioterapia com o semblante fechado, sem conversar com ninguém e sem olhar ou dar bom dia para as pessoas que encontrava. Aquele dia eu estava muito revoltado, irado, indignado pelo fato de ter ficado sobre uma cadeira de rodas.
A única pessoa que eu conversava naquela manhã era com Deus. E em silencio eu ia perguntando ao Senhor:
- Porque Deus? Porque o Senhor permitiu esse acidente? Não posso mais andar, correr, ficar em pé com a força das minhas pernas. Não posso mais caminhar à beira do mar e sentir a água tocar meus pés. Não poso mais sentir o orvalho da manhã ao pisar na grama molhada. Porque meu Deus, por quê?
Fui falando e questionando a Deus tudo que eu não podia mais fazer. Tudo que tinha perdido.
Ao chegar à fisioterapia, a primeira atividade foi a terapia em grupo. Entrei na sala calado, com a cara fechada e fiquei no meu canto, sem puxar papo com ninguém. Foi quando encostou um rapaz do meu lado e ali permaneceu. Eu estava tão absorvido pelos meus sentimentos, que nem dei muita atenção para aquele moço. Não sei como chegou, se alguém o trouxe ou se entrou ali empurrando sua cadeira de rodas. O que eu também não sabia, era que dentro de poucos minutos a presença daquele rapaz do meu lado mudaria minha forma de pensar pelo o resto da vida. Num determinado momento ele olha para mim e diz:
- Leandro, por favor, você pode pegar a garrafinha de água que está no bolso lateral da minha mochila pendurada na parte de trás da minha cadeira?
Claro! Respondi-lhe de prontidão. Abaixei para pegar a tal garrafinha e em seguida estiquei em sua direção para que ele pudesse puxá-la e assim saciar sua sede. Depois de alguns segundos segurando a garrafa à sua frente e sem entender porque ele não a pegava, ele falou:
- Por favor, você pode abrir a tampinha e em seguida colocar a água na minha boca? É que eu sou tetraplégico e não consigo mexer meus braços, só mexo o pescoço. Não consigo beber, comer, vestir e realizar minhas necessidades fisiológicas se não tiver alguém para me auxiliar. Você pode me ajudar neste momento a beber água? Ah, e aproveita e tira esse mosquitinho que pousou no meu rosto. Ele acha que é pista de pouso.
Aquilo foi um nocaute nos pensamentos que tomavam conta da minha alma naquela manhã. Pensei envolto em um sentimento de vergonha e agradecimento: Enquanto eu estou aqui, reclamando por não andar, não pisar na grama ou sentir a água do mar, esse rapaz não pode sequer mexer as próprias mãos para matar a sede ou simplesmente afastar um pequeno inseto que pousou em seu rosto. Meu Deus, o que eu estou reclamando?
Naquele mesmo instante mudei meus pensamentos e percebi que a minha deficiência me impunha inúmeras dificuldades, mas ainda assim eu tinha muitas coisas pelas quais deveria agradecer. Tantas possibilidades na minha vida, enquanto outros...
Já parou para pensar quanto tempo a gente perde reclamando pelo que não tem e se esquece de agradecer a Deus pelo que tem, o que pode fazer e por tudo que Deus já nos concedeu?
Por:Leandro Cussolini
Bela historia. já passei por isso dos dois lados, tanto servindo de exemplo, como revendo os meus conceitos. Hoje Deus me ensinou o porque das minhas dificuldades, por esse motivo tento não reclamar, ou pelo menos reclamar o menos possível.
ResponderExcluirParabéns amiga. bjs saudades